AS LEIS DA sELVA. 0 SONHO AMERICANO.
OS TAMBORES DA GUERRA. Confúcio
No livro do autor: A Inteligência Artificial (IA) na Amplidão da Mente, defende-se que, em quatro milhões de existência selvagem desde os humanoides, ...os dez mil anos de civilização da espécie humana ainda não criaram mudanças significativas nas tendências inatas da Humanidade.
São sistematizadas no livro as seguintes leis na vivência social, designadas por Leis da Selva:
Lei da selva geral 1: os mais fortes alimentam-se dos mais fracos (ataque, conquista, absorção).
Lei da selva ocasional 2: os mais fracos conseguem poder para combater os mais fortes (resistência ou mesmo domínio pelos mais fracos); historicamente, porém, a lei 2 não consegue grande permanência no tempo, porque, parafraseando Orwell: Aparecem logo uns menos fracos que outros.
Lei da selva do equilíbrio com duas situações: 3.1 `os mais fracos têm alguma proteção e submetem-se, com estabilidade´ ou 3.2 `ficam forçados, numa situação instável, em revolta latente´.
Estas leis da selva persistem, arreigadas, nas tendências inatas da espécie.
O estudo da História traz-nos muitos ensinamentos para análise dos factos presentes e para prever o futuro, segundo estas leis ainda persistentes na espécie.
Refere-se Sólon (século VII a.C.) como um inovador na Democracia. É verdade que foi um revolucionário social no seu tempo, com a reforma agrária que fez contra os grandes proprietários (lei 2). Só que não alterou muito os estatutos sociais, pois, mesmo nessa democracia direta, nem todo o povo tinha assento, e a ponderação do voto considerava o valor da contribuição para o Estado. Ou seja, em grande parte, a lei do mais forte (lei 1) predominava.
Passados poucos anos, a reforma foi logo posta em causa pelos poderosos (lei 1, plena).
Porém, houve períodos na Antiguidade em que, não obstante a guerra, o espírito humano brilhava em todo o seu esplendor. Lembra-se, por exemplo, o consulado de Péricles (495-429 a.C.): «Péricles promoveu as artes e a literatura, num período em que Atenas tinha a reputação de ser o centro educacional e cultural do mundo da Grécia Antiga. Iniciou um ambicioso projeto que construiu a maior parte das estruturas que ainda existem na Acrópole de Atenas (incluindo o Partenon). Este projeto foi responsável por embelezar a cidade, exibir a sua glória e dar emprego à população. Péricles também estimulou a democracia ateniense, a tal ponto que seus críticos o chamaram de populista» Fonte itálico e aspas baixas Wikipédia.
Ao longo dos tempos, a alternância entre as lei 1 e 2 têm sido notórias. Citam-se mais os seguintes exemplos:
Em consequência do abuso da aristocracia, a dos direitos de sangue, em relação aos dos escravos da gleba (lei 1), a Revolução Francesa do povo decapitou a aristocracia (lei 2). Sucedeu que, poucos anos depois, a nobreza renasceu (lei 1), nalguns casos atenuada em monarquias constitucionais (lei 3), e estas algumas vezes evoluindo para repúblicas.
Dada a exploração dos operários pelos detentores dos meios de produção (lei 1), Marx preconizou a ditadura do proletariado (lei 2). Ora, numa transformação orwelliana, o poder do proletariado converteu-se em lei da selva 1, por exemplo, com Estaline. Até que a ortodoxia marxista ruiu estrondosamente na Rússia e nalguns países satélites.
Seguiu-se um período de equilíbrio, no qual os mais fortes fizeram cedências ...ou fingiam que as faziam... (lei 3): Primado, no Ocidente, dos Estados de Direito (todos “em princípio” iguais perante a lei escrita), ou democracias representativas (algumas em rigor não do povo mas dos partidos poderosos, como, por exemplo, a portuguesa).
Os Iluminados de todos os tempos têm denunciado as leis da selva como sendo prejudiciais nas comunidades. Já Zaratustra (VII a.C.) sentenciava: «Devemos ser soldados em luta contra a violência, a crueldade e os espoliadores dos homens.».
Os EUA foram, até agora, um dos exemplos conseguidos da aplicação moderna das ideias democráticas de Sólon.
«A Declaração de Independência (1776), escrita por Thomas Jefferson, afirmou os princípios de liberdade, igualdade e direito ao governo com base no consentimento dos governados. Depois, foi elaborada a Constituição dos Estados Unidos (1787), que distribuía uma república federal democrática, com três poderes independentes: Executivo, Legislativo e Judiciário, criando um sistema de freios e contrapesos. Resumindo: a democracia dos EUA formou-se com base em ideias iluministas, práticas coloniais de autogoverno e movimentos sociais que, ao longo do tempo, ampliaram a participação política e os direitos civis.» Fonte itálico e aspas baixas ChatGPT.
No século passado, John Rawls (1921-2002) teve nos EUA um papel decisivo nas modernas teorias de justiça social. Defendeu a igualdade acompanhada da equidade: não basta considerar que somos todos irmãos; é preciso que haja equidade para todos na distribuição das oportunidades, realizando-se, assim, o almejado Sonho Americano: “o de um simples paquete poder um dia vir a ser um milionário”.
Na sua ideia de “pedir” generosidade e sacrifício aos mais capazes, a ideologia democrática ia seguindo a doutrina cristã, que “recomenda” caridade numa das suas virtudes teologais. Esta doutrina da Igreja Cristã deixa a cada um o mérito de ser generoso ou não; pois “aconselha”, nas palavras de Cristo: «.... dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu» [Mateus. 19, 17, 21]. A Igreja não impõe a igualdade por lei. Repare-se na diferença em relação a Marx, pois este impunha a equidade económica à força, pela lei.
No seguimento das ideias de Rawls, o presidente Lyndon Johnson deu aos negros iguais direitos de votarem. Pretendeu também extirpar a pobreza nos EUA e dizia que a América devia ser um lugar onde os homens estivessem mais atentos à sua qualidade de vida do que à quantidade dos seus bens (lei 3.1 estável).
Compare-se, agora, com o que está a fazer Trump com a sua companhia de magnates. De facto, no país cioso do “em princípio” Estado de Direito e do respeito constitucional, está a assistir-se ao renascimento do abuso dos poderosos, com Trump e acompanhantes (lei 1).
Aliás, parece estar a dar-se no mundo uma reação global semelhante à que se deu outrora no surgimento do fascismo de direita, que negava um marxismo pretensamente igualitário implantado na Rússia e na China. No caso da Alemanha, houve, como detonador do fascismo, o sacrifício exigido pelos aliados a um povo humilhado que, assim, se entregou ao orgulho militar, embalado na sua pretensa superioridade racial. No de Itália, teve muita influência a memória do esplendor do passado romano e as promessas aos “descamisados”. Em Portugal, o advento do Estado Novo deveu-se ao descontentamento com a corrupção e as barafundas no Parlamento da Primeira República.
O fenómeno, presentemente, no movimento à direita, é contra um socialismo (a social‑democracia e a democracia cristã alinham quase no mesmo diapasão), dito libertário e que continua a defender igualdades contranatura. Um socialismo a facilitar a entrada de imigrantes, que, do ponto de vista do povo indiscriminado, baixam o valor dos empregos (aceitando remunerações reduzidas e condições de vida de baixo nível) e ocupam a assistência social, muitas vezes sem as contribuições devidas. São, assim, considerados uns intrusos, como nas históricas invasões dos nómadas oportunistas, com revolta dos nativos (sempre as leis da selva 2: reação ao ataque).
Nota-se que este fenómeno, batizado de populismo de direita, está a tentar implantar-se autoritariamente, como sempre acontece com os movimentos que só assim vencem contra os interesses constituídos.
Tendo os EUA o prestígio de defender os valores humanos, nas vezes em os seus filhos heroicamente vieram morrer na Europa e batalharam titanicamente no Pacífico contra as ditaduras, estranha-se como pôde escolher para seu chefe supremo alguém tão censurável na elevação do espírito.
Terá sido porque se verificou com Trump uma conjugação paradoxal: por um lado, cativou os humildes `fazendo promessas aos que ficaram “marginalizados” com as importações (em particular da China) e com a revolução digital, a automação, o custo de vida´ e, por outro lado, `concede grandes favorecimentos aos empreendedores, como fez Salazar, para haver concentração de meios para investimentos´. Aumentar tarifas, expulsar imigrantes, reduzir os subsídio-dependentes, tudo com o pretexto de fazer a América Grande, foram as frases mobilizadoras. Veremos se não lhe sai o tiro pela culatra: uma divisão sangrenta entre Estados então desunidos ou uma fuga dos capitais, seguida de bancarrota, numa economia com défice excessivo e ostracizada.
O outro risco para o Eldorado Americano é que, para impor o seu programa, Trump acabe por implantar no país uma autocracia, como parece ter intenção e poderes para isso. Então, Sólon e a sua excelsa `demokratia´, renascida no Sonho Americano, afundam universalmente no exemplo.
O consulado agora iniciado por Trump parece uma brutal ideologia nietzschiana aplicada: “os menos capazes não devem ser protegidos mas eliminados, porque prejudicam a evolução” (lei da selva 1).
A lei 1 pode ser estável num país mas ser insegura na comunidade das nações. Os países com um poder difuso são vulneráveis aos de poder forte concentrado. Assim, uma considerável parte da população dos EUA terá concluído que só numa concentração de poder poderá ombrear de futuro com os países onde o poder está concentrado e ameaça os EUA com ataque e conquista (sempre a lei natural 1).
Para o autor, a Europa viu-se subitamente no “drama da orfandade” e no dilema existencial da sua importância no mundo.
A Europa tem sido nos últimos anos um novo eldorado de concórdia (lei 3.1), no qual canalizou bastos meios para um Estado Social (ES) que mantinha a estabilidade, não obstante permanecer sempre o poder dos mais fortes (no capital, na política, na economia). Ora, está agora em causa essa excelsa realização de grandes dirigentes que conseguiram unir países que sempre viveram em guerras uns com os outros.
De facto, esta `união de nações desavindas´ só pode ser duradoura e em paz social, desde que tenha obras comuns, generosidade na coesão e grande investimento num ES generalizado ...ou ante um inimigo potencial (a Rússia de longa data ou os EUA agora com Trump?). Assim, irá possivelmente concluir, como fez os EUA, que só numa concentração de poder poderá ombrear com as outras civilizações de poder concentrado. Então, nesta eventual concentração de poder, vai sobressair a disciplinada Alemanha, fortíssima até na paz. Para a limitar, obrigaram-na a desarmar-se depois da derrota na II Grande Guerra; ...ora já fala, sem resistência, em rearmar-se até aos dentes e avançar para o nuclear em força, quiçá mesmo nas bombas ...e com a ajuda da nuclear França, seu antigo inimigo figadal... (o tempo tudo muda dizia o P.e António Vieira)...
Os riscos para a Europa, agora, nestes tambores de guerra, são óbvios:
O milagre da “união” europeia tender a esboroar-se, pois a distribuição pelos países mais pobres deixa de poder ser tão generosa...
O ES vir a ser esvaziado com o desvio colossal para o armamento, e a política comum de subsídio amplo aos ditos carenciados ficar em causa, ...com risco de cairmos numa crua indiferença pelos que são mesmo desvalidos...
A AfD (atual extrema direita alemã, em segundo lugar no Parlamento Alemão) é uma representante da lei da selva 1, e, com um poder exagerado, poderá substituir o euro pelo marco e pôr a bota alemã em toda a Europa, ...como já esteve...
Termina-se considerando que é interessante meditar sobre qual vai ser o papel da China em toda esta convulsão atual e nas consequências futuras para a Europa e para Portugal, eventualmente perdido o chapéu protetor dos EUA. Lembra-se que os mandarins sempre aconselharam o seu povo: Calma... Pensemos no que vai acontecer, em breve, daqui a cem anos.
Seria bom que a Europa ponderasse bem a sabedoria confuciana. Um país confiável, relativamente pacífico (não oferecendo tanto perigo na lei da selva 1) e que, no caso de Portugal, foi sempre amigo.
«Confúcio (nascido entre 552 a.C. e 489 a.C.) não foi considerado um deus no sentido tradicional, mas foi venerado como um sábio e mestre. Durante a dinastia Han e períodos posteriores, recebeu honras quase divinas em templos confucionistas. O confucionismo é primariamente uma filosofia ética e social, não uma religião. Não se centra na adoração de divindades ou na vida após a morte. O Estado é oficialmente ateu. Mas: Desde os anos 2000, houve um renascimento confucionista, apoiado pelo governo, que vê nele um símbolo de identidade cultural. Escolas ensinam os seus valores, e Institutos Confúcio promovem a sua filosofia globalmente. Princípios como harmonia social e respeito hierárquico são valorizados.
Os principais preceitos de Confúcio são: Compaixão e empatia. Respeito a normas sociais e tradições. Devoção aos pais e ancestrais. Retidão moral. Lealdade ao governante e à comunidade.»
Sublinha-se o respeito aos mais velhos e aos chefes, com obrigações recíprocas: «O líder deve agir com virtude e justiça. Não é obediência cega, mas um pacto ético.»
«Em resumo, o legado de Confúcio permanece vivo na China moderna, influenciando valores sociais, educação e política, embora adaptado ao contexto contemporâneo.» Fonte itálico e aspas baixas: Recente chinesa DeepSeek (Manus IA chinesa será ainda mais avançada).
Alguns pensamentos atribuídos a Confúcio extraídos do livro do autor: O Contraponto Augusto:
• Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro e depois perdem o dinheiro para a recuperar.
• A maior glória não é ficar de pé, mas levantar-se de cada vez que se cai.
• Nem todos os homens podem ser ilustres, mas todos podem ser bons.
• Não corrigir falhas é o mesmo que cometer novos erros.
• Só os grandes sábios e os ignorantes são imutáveis.
• De nada vale tentar ajudar aqueles que não se ajudam a si próprios.
• Escolhe um trabalho de que gostes e não terás de trabalhar toda a vida.
• Algum dinheiro evita preocupações, muito atrai-as.
• O espírito nunca vai tão longe como o coração.
• Até que o Sol brilhe, acendamos uma vela na escuridão.
É natural (lembremos Tiananmen) que nem todos os chineses pensem que o seu país atingiu o “fim da história” na organização social, como já se disse da democracia, esta afinal controversa em muitas sociedades. Contudo, há na China uma notável estrutura ética no respeito por valores tradicionais, e compreende-se a força da sua estabilidade na lei da selva 3.1.
Na presente conjuntura, em que o mundo parece ter enlouquecido, com os EUA aliados do seu inimigo tradicional da Guerra Fria, a Rússia; e a França a preconizar que a sempre temível Alemanha se arme também com a bomba atómica, a frase de Confúcio “Até que o Sol brilhe, acendamos uma vela na escuridão” é bem oportuna. Desacreditadas um pouco as religiões, Confúcio pode ser ele próprio essa vela.
Março de 2025
D' Slivas Filho
Nota: Quando publiquei este artigo no Linkeldn, dei-lhe o título As mulheres Deviam Estar mais no Governo dos Homens e referi também a seguinte observação:
Sublinha-se que foi elaborado com a ajuda da Wikipédia, da ChatGPT e da DeepSeek.
Nessa publicação no Linkedin, ocorreu-me que, se Angela Merkel ainda pontificasse na Alemanha, teríamos chegado a este estado de completa insanidade nas relações entre a Europa e a Rússia, com a qual se vivia em boa vizinhança.
O artigo no meu domínio, sem o indicar expressamente, traduz a conclusão a que cheguei: A lei da selva persiste devido à excessiva agressividade masculina. A frase de Confúcio «O espírito nunca vai tão longe como o coração» talvez ele a tivesse ouvido de sua mãe.
Pergunto-me: se Kamala Harris tem ganho as eleições nos EUA, teríamos agora esta animosidade entre a Europa e o seu precioso aliado de sempre?...