AS SOLUÇÕES DO AUTOR COMPARADAS COM

 DICIONÁRIOS PRIBERAM E INFOPÉDIA, VOCABULÁRIOS DA ACL E VOP

 

1. Legenda  

ABL: Vocabulário em linha da Academia Brasileira de Letras.

abus: Forma abusiva, na opinião do autor, ver nfdoc. [1]

ACL: Entrada no vocabulário em linha da Academia das Ciências de Lisboa, ver nfdoc. [2]

ambi.: Ambiguidade.

autor: Livro Novo Vocabulário Ortográfico Conciliador do Acordo de 1990 com a Norma de 1945; considera que tinha sido feito o Vocabulário Comum prévio, previsto no Preâmbulo do AO90; aceita que a língua deve ser simplificada, mas sem perda de virtualidades. 

BR: Grafia no Brasil. BRc única em BR, registada no vocabulário do autor para uniformizar, sem palavras inventadas. BRd dupla em BR, registada no vocabulário do autor, dando liberdade ao falante.

classificação pelo autor quanto à defesa da língua: bom; mau.

consoante não articulada ou muda, por exempolo: p em : concepção, c em abjecção.

E.: Entrada no dicionário Priberam, assinalando, na interpretação do autor, que aceita a palavra como existente na língua (dando mesmo exemplos dessa existência), embora registe que na aplicação do AO90 em PT se usa sem a consoante (critério do VOP, para o autor muitas vezes abusivamente). Se há duplas grafias aceites por Priberam com a consoante usada em PT não se grafa E.

Infopédia: Entrada no dicionário em linha, da Porto Editora.

inv.: Palavra inventada em Portugal suprimindo desnecessária e abusivamente consoantes não articuladas, ver abus.

nfdoc.: Nota de fim de documento (clicar no número do texto para ir à nota e vice-versa).

Priberam [3]: Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, em linha, para Portugal.

PT: Grafia em Portugal.

: Só há esta entrada no vocabulário ou dicionário, como legal na língua, embora possa haver referência à grafia antes do AO90. Sublinha que não é E.

única: Palavra que devia ser única com esta grafia no universo da língua, pois é BRc.

var.: Variante.

VOC: Vocabulário Comum prévio, previsto no Preâmbulo do AO90.

VOP: Entrada no Vocabulário Ortográfico do Português, em linha, considerado autocraticamente o legal para a administração e o ensino pelo Governo de Sócrates. Ver nfdoc. [4]

vts.: Palavra com consoante não articulada, sem ação diacrítica (segue a vogal tónica ou surda).

 

2. vocabulário do AO90 para PT (excluídas as indicações Brasil)

Autor

Vocab. Conciliador

Priberam

Norma Europeia

Porto Editora

Infopédia

ACL

   Academia

VOP

ILTEC

    Consoantes não articuladas (algumas BRc)

anticéptico única

E. anticéptico, var. anticético inv. abus.

anticético inv. abus.,

anticético inv. abus.

anticéptico, anticético inv. abus.

anticonceptivo única

E. anticonceptivo, var. anticoncetivo inv. abus.

anticoncetivo inv. abus.

anticoncetivo inv. abus.

anticonceptivo, var. anticoncetivo inv. abus.

apocalíptico única

E. apocalíptico, var. apocalítico inv. abus.

 apocalíptico, var: apocalítico inv. abus.

apocalíptico, var. apocalítico inv. abus.

apocalíptico, var. apocalítico inv. abus.

asséptico única

E. asséptico, var assético inv. abus.

asséptico, var. assético inv. abus.

asséptico, var. assético inv. abus.

asséptico, var. assético inv. abus.

caracteres única

E. caracteres, var. carateres inv. abus.

caracteres

concepção única

E. concepção var. conceção inv. abus.

  conceção inv. abus.

conceção inv. abus.

conceção inv. abus.

conectar única

E. conectar, var. conetar inv. abus.

conectar, var. conetar inv. abus.

conectar

conectar

confecção única

E. confecção, var. confeção inv. abus.

só confeção inv. abus.

só confeção inv. abus.

confeção inv. abus.

contracepção única

E. contracepção, var. contraceção inv. abus.

contraceção inv. abus.

contraceção inv. abus.

contraceção inv. abus.

corrector, ver nfdoc.[5]

E. corrector, var. corretor ambi.   

corretor ambi.

corretor ambi.

corretor ambi.

decepção única

E. decepção, var. deceção inv. abus.

deceção inv. abus.

deceção inv. abus.

deceção inv. abus.

decepcionado única

E.  decepcionado, var. dececionado inv. abus.

dececionado inv. abus.

dececionado inv. abus.

dececionado inv. abus

detecção única

E. detecção, var. deteção inv. abus

deteção inv. abus.

deteção inv. abus.

deteção inv. abus.

espectador, ver nfdoc.[6]

espectador, var. espetador ambi.

espectador, var. espetador ambi.

espectador, var. espetador, ambi.

espectador, var.  espetador, ambi.

imperceptível única

E. imperceptível, var. impercetível inv. abus.

impercetível inv. abus.

impercetível inv. abus.

impercetível inv. abus.

intercepção única

E. intercepção, var. interceção inv. abus.

interceção inv. abus.

interceção inv. abus.

interceção inv. abus..

intersectar única

E. intersectar, var. intersetar inv. abus.

intersectar, var. intersetar inv. abus

intersectar, var. intersetar inv. abus.

intersectar, var. intersetar inv. abus.

percepção única

E. percepção, var. perceção inv. abus.

perceção inv. abus.

perceção inv. abus.

perceção inv. abus.

perceptor única

E. perceptor, var. percetor inv. abus.

percetor inv. abus.

percetor inv. abus.

peremptório única

peremptório, var. perentório inv. abus.

peremptório, var. perentório inv. abus.

perentório, inv. abus.

perentório inv. abus.

perfeccionista única

perfeccionista, var. perfecionista inv. abus.

perfeccionista, var. perfecionista inv. abus.

perfeccionista, var. perfecionista inv. abus.

perfeccionista, var. perfecionista inv. abus.

prospecção única

E. prospecção, var. prospeção inv. abus.

prospeção inv. abus.

prospeção inv. abus.

prospeção inv. abus.

recepção única

E. recepção, var. receção inv. abus.

só receção inv. abus.

só receção inv. abus.

receção inv. abus.

ruptura, ver nfdoc. [7]

E. ruptura, var. rutura inv. abus

rutura inv. abus.

ruptura, var. rutura inv. abus.

rutura inv. abus

       Duplas Grafias

 (só três exemplos BRd. No Livro do autor, estas duplas legais são cerca de 170)

abjeção/abjecção

 abjecção/abjeção

 abjeção

abjeção

só  abjeção

inseticida/insecticida

insecticida/inseticida

inseticida.

insecticida /inseticida

insecticida /inseticida

letivo/lectivo

lectivo/letivo

letivo.

letivo

letivo

 

    Hífen (algumas ligações por preposição)

água-de-colónia

água-de-colónia

água-de-colónia

água de Colónia abus. erro no AO90
 
água-de-colónia

água-de-colónia

auto-de-fé

auto-de-fé

auto de fé  abus.

auto de fé abus.

auto de fé abus.

baba-de-camelo

baba-de-camelo

baba-de-camelo [8]

baba de camelo abus.

baba de camelo abus.

balão-de-ensaio, experiência

balão-de-ensaio

balão de ensaio abus.

balão de ensaio abus.

balão de ensaio abus.

bico-de-obra

bico-de-obra

bico de obra abus.

bico de obra abus.

bico de obra, abus.

boca-de-sino

boca-de-sino

boca de sino abus.

boca de sino abus.

boca de sino, abus.

bola-de-berlim

bola-de-berlim

bola de Berlim abus.

braço-de­‑ferro

braço-de-ferro

braço de ferro abus.

braço de ferro abus.,

braço de ferro abus.

bota-de­‑elástico

bota-de-elástico

bota de elás­tico abus.

bota de elás­tico abus.

bota de elás­tico abus.

cabeça-de-ponte

cabeça-de-ponte

cabeça de ponte abus.

cabeça de ponte abus.

cabeça de ponte abus.

capitão-de-fragata

capitão-de-fragata

capitão de fragata abus.

capitão de fragata abus.

capitão de fragata abus.

colete-de-forças

colete-de-forças

colete de forças abus.

colete de forças abus.

colete de forças abus.

fato-de-macaco

fato-de-macaco

fato de macaco abus.

fato de macaco abus.

fato de macaco abus.

faz-de-conta

faz-de-conta

faz de conta abus.

faz de conta abus.

faz de conta abus.

febre-de-malta

febre-de-malta

febre de Malta abus.

febre de Malta abus.

febre de Malta abus.

fogo-de-artifício  (pompa para enganar)

fogo-de-artifício

fogo de artifício abus.

fogo de artifício abus.

fogo de artifício abus.

folha-de-flandres

folha-de-flandres

folha de Flandres abus.

folha de Flandres abus.

folha de Flandres abus.

gaita-de-foles

gaita-de-foles

 

gaita de foles abus.

gaita de foles abus.

gaita de foles abus.

jardim-de-infância

jardim-de-infância

jardim de infância abus.

jardim de infância abus.

jardim de infância abus.

língua-de-trapos

língua-de-trapos

língua de trapos abus.

língua de trapos abus.

língua de trapos abus.

mão-de-obra

mão-de-obra

mão de obra abus.

mão de obra abus.

mão de obra abus.

menina-do-olho

menina-do-olho

menina do olho abus.

menina do olho abus.

menina do olho abus.

mestre-de-obras

mestre-de-obras

mestre de obras abus.

mestre de obras abus.

mestre de obras abus.

mulher-a-dias

mulher-a-dias

mulher a dias abus.

mulher a dias abus.

mulher a dias abus.

negro-de-fumo

negro-de-fumo

negro de fumo abus

negro de fumo abus

negro de fumo abus

pai-de-todos

pai-de-todos

pai de todos abus.

pai de todos abus.

pai de todos abus.

pão-de-ló

pão-de-ló

pão de ló abus.

pão de ló abus.

pão de ló abus.

pão-por-deus

pão-por-deus

pão por Deus abus.

pão por Deus abus.

pau-de-cabeleira

pau-de-cabeleira

pau de cabeleira abus.

pau de cabeleira abus.

pau de cabeleira abus.

pau-de-fileira

pau-de-fileira

pau de fileira abus.

pau de fileira abus

pau de fileira abus

paz-de-alma

paz-de-alma

paz de alma abus.

paz de alma abus.

paz de alma abus.

pedaço-de­‑asno

pedaço-de-asno

pedaço de asno abus.

pedaço de asno abus.

pedaço de asno abus.

pé-de-atleta 

pé-de-atleta

pé de atleta abus.

pé de atleta abus.

pé de atleta abus.

pé-de-chumbo

 

pé-de-chumbo

pé-de-chumbo var. pé de chumbo abus.

pé de chumbo abus.

pé de chumbo abus.

pé-de-cabra

pé-de-cabra só para Portugal

pé-de-cabra var. pé de cabra abus.

pé de cabra abus.

pé de cabra abus.

pé-de-vento

pé-de-vento

pé de vento abus.

pé de vento abus.

pé de vento abus.

pinheiro-do-brasil

pinheiro-dobrasil

quartos-de-final

quartos-de-final

quartos de final abus.

quartos de final abus.

quartos de final abus.

rabo-de-andorinha

rabo-de-andorinha

rabo de andorinha abus.

rabo de andorinha abus.

rabo-de-cavalo (penteado)

rabo-de-cavalo (penteado)

rabo de cavalo (penteado) abus.

rabo de cavalo (penteado) abus.

rabo-de-cavalo (botãnica). var. rabo de cavalo (penteado) abus.

rosa-dos-ventos

rosa-dos-ventos

rosa dos ventos abus.

rosa dos ventos abus.

rosa dos ventos abus.

serra-da-estrela (cão)

serra-da-estrela (cão)

serra-da-estrela (cão)

serra-da-estrela (cão)

serra-da-estrela (cão)

sete-e-meio

sete-e-meio

sete-e-meio

sete e meio abus.

sete-e-meio

terra-a-terra

terra-a-terra

terra a terra abus.

terra a terra abus.

terra a terra abus.

terra-de-ninguém

terra-de-ninguém

terra de ninguém abus.

terra de ninguém abus.

terra de ninguém abus.

testa-de-ferro

testa-de-ferro

testa de ferro abus.

testa de ferro abus.

testa de ferro abus.

testa-de-ponte

testa-de-ponte

testa de ponte abus.

testa de ponte abus.

testa de ponte abus.

tinta-da-china

 

tinta-da-china

tinta da China abus.

tinta da China abus.

tinta da China abus.

todo-o-terreno

todo-o-terreno

todo-o-terreno

todo o terreno

topa-a-tudo

topa-a-tudo

topa-a-tudo

topa a tudo [9]

topa-a-tudo

toucinho-do-céu

toucinho-do-céu

toucinho do céu (sem hífen erro na minúscula) abus.

toucinho do céu (sem hífen erro na minúscula) abus.

toucinho do céu (sem hífen erro na minúscula) abus.

trouxa-de-ovos

trouxa-de-ovos

trouxa de ovos abus.

trouxa de ovos abus.

trouxa de ovos abus.

unhas-de-fome

unhas-de-fome

unhas de fome abus.

unha de fome abus.

unhas de fome abus.

verbo-de-encher

verbo-de-encher

verbo de encher abus.

verbo de encher abus.

verbo de encher abus.

zé-dos-anzóis

zé-dos-anzóis

zé dos anzóis abus.

zé dos anzóis abus.

zé dos anzóis abus.

Acento gráfico (indispensável para o autor)

pára forma verbal, com acento para não se confundir com a preposição “para” frequente

para forma verbal, amb.

para forma verbal, amb.

para forma verbal, amb.

para forma verbal, amb.

pêlo nome, com acento para não se confundir com “pelo” (per +o) frequente,

pelo nome amb.

pelo nome amb.

pelo nome amb.

pelo nome amb.


3. Resumo

    Nos dicionários e vocabulários: Infopédia, ACL e VOP, foram excluídos alguns (muito poucos) vocábulos “para Portugal”, com a entrada que tinha a indicação “Brasil” (exemplo na Infopédia: «recepção Brasil ..... também se pode escrever receção»). Se considerarmos que esses documentos os aprovam como válidos em PT, teriam, no espírito do autor, de coerentemente, aceitar também no AO90 para PT muitos outros de BR atual que já eram comuns em 1945 com PT. Nomeadamente nas duplas grafias, frequentíssimas em BR, e, em particular, no caso em que grafia com a consoante é única no Brasil; ora não é isso que fazem, até, neste último caso inventando agora palavras novas na língua para PT (exemplo: na Infopédia para PT em anticéptico, única em BR: «a nova grafia é anticético»).

    A aplicação do AO90 em Portugal é um desatino. Repare-se nos sublinhados feitos nas listas acima. O VOP, imposto como oficial, é muitas vezes desrespeitado pelos outros trabalhos para o AO90. Isto sem falar nas confusões a que o VOP deu origem na sua imposição abusiva de suprimir todas as consoantes não articuladas (confusões como compato por compacto, fato por facto, ineto por inepto, etc.).

    O respeitado dicionário Priberam, em linha, aproximando-se mais do prescrito na Nota Explicativa, último parágrafo do 4.3, autenticamente ignora, mais significativamente ainda, o vocabulário VOP, em particular na correta distinção entre compostos e locuções.

    Impõe-se que haja ordem na língua. A ACL perdeu uma oportunidade de a conseguir com o trabalho da Doutora Ana Salgado. Além disso, com esse trabalho, a Academia poderia voltar a prestigiar-se na língua… Renasceria como a Fénix mitológica (que «das próprias cinzas, ficava depois capaz de carregar elefantes»). Sem dúvida, que se poderia então dizer que a ACL passava aos tempos áureos de Rebelo Gonçalves, agora finalmente com um trabalho de elevado nível no léxico. O quinto capítulo, Vocabulário Ortográfico Total do Autor, do livro acima citado, é um mero resumo da solução completa, que seria realizada com as exaustivas listas da Doutora, aprovadas pelo Instituto de Lexicologia e Lexicografia da Língua Portuguesa (ILLLP), da Academia das Ciências de Lisboa.  

    Quando se veem os deputados nas tribunas a exultar com o feito dos atletas portugueses, vem logo ao espírito a arbitrariedade que aceitam na língua com aplicação do AO90. Ora, como a bandeira, a língua comum é um dos símbolos de união nos países... 



   [1]    A palavra é abusiva quando:

a) exceder o exigido no 4.1 da Nota Explicativa do AO90 («as consoantes não articuladas só têm de ser suprimidas quando não pronunciadas em todo o universo da língua»); por exemplo, em acção deve ser suprimida porque muda no universo da língua, logo: ação. Contudo, quando a palavra é única com a consoante no Brasil, a supressão da consoante em Portugal é uma palavra abusivamente inventada; exemplo: em conceção é abus. inv., porque concepção se mantém como única no Brasil e era usual em Portugal.

b) se tratar de  forma que suprima hífenes, contrariando o prescrito no 6.2 da Nota Explicativa («mantém-se o hífen na diferença entre compostos e locuções»); exemplo: braço de ferro é abus. sem hífenes, pois as palavras não estão no sentido real; logo: braço-de-ferro é a grafia correta (com hífenes), pois o grupo é um composto, com a acepção de medição de forças: (palavras no sentido figurado, grupo conotativo); mas já é: nascer do Sol ou alvorada, correta sem hífenes, pois se trata de uma locução, podendo ser substituída por uma só palavra, com os elementos no sentido real (grupo denotativo).

    [2]   Depois da organização de um colóquio da ACL subordinado ao tema Bom Senso, no qual houve muitas críticas ao AO90, o autor pertenceu como conselheiro a um grupo de trabalho na ACL, para aperfeiçoar a aplicação do Acordo. Então, a académica Doutora Ana Salgado, em colaboração interativa com o autor, elaborou uma proposta de meio-termo, do autor, na qual se respeitava nalguns casos a norma equilibrada de 1945, sem simplificacionismos exagerados, dando alguma liberdade ao falante e supondo que se havia realizado o Vocabulário Comum prévio, previsto no AO90 (depois ignorado ou falseado em oito distintos, não no `único comum pretendido´).

     O texto da proposta, com justificações científicas, foi aprovado em Plenário de Efetivos da ACL e comunicado à Assembleia da República. Depois, foram inclusivamente aprovados no ILLLP da ACL exemplares de listas exaustivas da doutora para o Novo Vocabulário da Academia, dito de aperfeiçoamento do AO90. Ora, com a mudança posterior de responsáveis na ACL, não só o trabalho ficou sem seguimento, mas foi publicado pela ACL, em linha, um Vocabulário para o AO90 que contradiz as decisões tomadas em Plenário de Efetivos. Por exemplo, este vocabulário regista dececionado, a var. água de Colónia (erro inaceitável na responsabilidade da ACL por desrespeitar o AO90, pois, neste, o composto está registado com hífenes, e dito consagrado pelo uso), braço de ferro; enquanto o documento aprovado em Plenário e enviado à Assembleia da República indicava que se grafaria respetivamente: decepcionado, água-de-colónia, braço-de-ferro.

     Como resultado deste não seguimento pela ACL dos melhoramentos no AO90, contrariando as expectativas, o Grupo de Trabalho, que, na Assembleia da República, estava a estudar as alterações ao AO90, deixou de respeitar a ACL na língua e propôs a criação de uma Comissão Científica para Ortografia. A aura de dar parecer sobre a língua que a ACL ostentava converteu-se nessa altura em desprestígio.

     A verdade é que a diferença entre a forma como Portugal trata agora a sua língua é bem deprimente em relação, por exemplo, a Espanha, com a sua Real Academia Española; a França, com a sua Académie Française; ou o Brasil, na língua portuguesa, com a sua impressionante Academia Brasileira de Letras.

     [3]   O Dicionário Priberam da Língua Portuguesa (de português contemporâneo), em linha, é o único que mais se aproxima do prescrito na Nota Explicativa do AO90, a qual regista no último parágrafo do 4.3: «Os dicionários da língua portuguesa que passarão a registar as duas formas em todos os casos de dupla grafia, esclarecerão, tanto quanto possível, sobre o alcance geográfico e social desta oscilação de pronúncia.». Este dicionário tem “sempre” a possibilidade de se consultarem as normas em vigor europeia ou brasileira, à opção, e, além disso,  na interpretação do autor, não repudia a Norma de 1945, considerando que no universo da língua continua a ser praticada.

     De facto, na versão para PT (para BR não foi verificado) o dicionário da Priberam regista “como entrada” (E) sempre as palavras que, continuando em uso na língua, não podem ser condenadas (exemplos: concepção única em BR, ou abjecção dupla em BR, quer para quem em PT segue a norma de 1945, quer nos países da CPLP que ainda não têm o AO90 em vigor (exemplo: Angola). Note-se que quando a palavra não existe na língua, Priberam a recusa como entrada (exemplo: em acciionar regista «não encontrada», mas aceita a entrada accionar); e, então, se o Priberam regista uma palavra como entrada é porque a considera na língua; verificando-se que a aceita na versão para PT, mesmo quando proibida pelo VOP. O Priberam apresenta exemplos nos quais a palavra foi encontrada, embora possa indicar que em Portugal é usada sem consoante. Ora, no citado livro do autor, justamente defende-se este critério. Na realidade, não existindo em Portugal uma lei que obrigue a seguir a Resolução de Sócrates (que impôs o VOP abusivo, do ILTEC), só a administração e o ensino têm de seguir o VOP.

     Não o fazem os outros dicionários para AO90 destinados a Portugal (exemplo: em Priberam: “E. anticéptico, uso em Portugal anticético”; mas Infopédia “só anticético”). A interpretação, pelo autor, deste critério do Priberam permitiu-lhe colecionar no documento muitas palavras únicas com consoante etimológica em BR (BRc) não articulada em PT, para as preferir também para PT, na unificação pretendida e que seria feita no VOC prévio, ver nfdoc 4. Assim, nesta metodologia, as palavras BRc sem as consoantes em Portugal foram classificadas pelo autor como palavra inventada, abusiva (exemplo: anticético inv. abus.).

     Repare-se que o dicionário Priberam é tolerante com as duplas grafias, como fazem abundantemente o Brasil e o vocabulário do autor, duplas que os outros dicionários para Portugal rejeitam. Era este o espírito do AO expresso na Nota Explicativa, segundo o 4.3. As duplas grafias legais (consentidas pelo AO90 na c) do 1.º da Base IV) permitem, numa fase de adaptação, uns falantes irem escolhendo as simplificações e outros continuarem com as grafias de 1945. 

     Quanto às ligações por preposição, confundindo compostos e locuções (discordância frontal que fez o autor pedir para ser excluído de consultor do VOP do ILTEC), a Priberam assinala com hífenes os compostos que o Vocabulário do autor defende, registados na lista. Assim, ignora também o critério geral simplificacionista, em excesso, de na generalidade se suprimirem os hífenes nas ligações por preposição, seguido pelo VOP e os outros dicionário e vocabulários, peregrinamente inventado no Projeto falhado de 1986, que até grafava bemaventurança e panelenico.

     [4] O VOP regista taxativamente que se eliminam de uma maneira drástica todas as consoantes não articuladas (abusivamente, ver nfdoc. 1), mas que, incoerentemente, lá vai aceitando uma ou outra consoante etimológica na dúvida se poderá ser articulada. A palavra anticonceptivo neste dicionário é paradigmática da incoerência, em relação à grafia abusiva de conceção.

     Este abuso foi possível porque foram elaborados vocabulários para o AO sem ter havido o Vocabulário Comum (VOC) previsto no Preâmbulo do AO90, e, assim, o VOP permitiu-se adotar esta regra drástica, contrariando a unificação pretendida no AO90 e excedendo o 4.1 da sua Nota Explicativa.

     Há um equívoco na ideia de que o VOC previsto era um vocabulário que impunha a uniformização completa de todas palavras, para todo o universo da língua portuguesa (como pretendido erradamente no disparatado projeto de 1986, ...quando as grafias de Portugal e Brasil já se tinham afastado tanto...). O VOC seria uma simples estrutura de base com todas as palavras que, à data, eram comuns no universo da língua (exemplo: acepção, confeccionar, detectar, procurando-se uniformizar algumas não comuns, como hífenes e hifens, connosco e conosco, quezília e quizília, etc. Este VOC serviria, então, para se elaborarem os dicionários nacionais para o novo acordo, que incluiriam as variantes específicas (ex.: o para BR, detetar também, var. de detectar), ainda hoje válido no VOLP da ABL).

     Para dar caráter universal à língua, poderia haver um Dicionário Geral da Língua Portuguesa, que conteria todas as variantes usuais na língua universal, incluindo as não comuns, estas com indicação do seu «alcance geográfico e social» (último parágrafo do 4.3). Num espírito de se considerar que este Dicionário Geral era legal em todo o universo da língua, nada impedia que num país se usassem termos usuais noutro, desde que não houvesse confusões semânticas (ex.: detetar também em PT). A comissão de linguistas poderia também estabelecer que as palavras fossem simplificadas no VOP sem a consoante etimológica, quando esta não tivesse valor diacrítico (vts), obedecendo, assim, à alínea b) da Base IV do AO90 (ex.: acionar, exato, ótimo). 

     Ora, como cada país elaborou o seu vocabulário para o AO90 discricionariamente, sem haver o VOC exigido, tivemos como resultado, paradoxalmente, uma ainda maior desunião, ...com um AO90 que pretendia unificar alguma coisa na língua universal portuguesa, mas que, na sua aplicação, deu origem a três grafias: a de PT, a de BR e a ainda a de 1945 ainda em vigor...

     Como se disse, o autor propõe, no livro acima citado, um Novo Vocabulário supondo que tinha sido feito o VOC prévio previsto, repondo o espírito do AO90. Respeita o AO90, mas recusa simplificações que desunam ou tirem virtualidades à língua (exemplos; preconiza grafias diferentes, consoante a semântica, em corrector/corretor, pára/para, pêlo/pelo e distinção entre compostos e locuções, etc.

     Alguns partidos da Assembleia da República têm tentado resolver o atual desconchavo desagregador na aplicação do AO90, mas há partidos que se têm incompreensivelmente oposto aos aperfeiçoamentos, não se entendendo bem porquê.

     [5]   Única no sentido de quem corrige, para evitar ambi. com corretor, intermediário.

     [6]   Única para quem assiste a espectáculos.

     [7]   Única no sentido de corte, interrupção, quebra, adotando-se rotura no de rompimento.

    [8] Notar a incoerência em vocabulários que seguem sempre a supressão dos hífenes nas ligações por preposição. Permite legitimar todos os outros casos de hífen que também eram consagrados pelo uso (no Vocabulário do autor, como se disse acima, são os compostos conotativos: figurados, unidades semânticas ou os tradicionais).

    [9] Repare-se que, no seu vocabulário em linha, a ACL, que devia dar parecer na língua, se limita a seguir o abusivo VOP imposto. Contudo, tem discrepâncias: Em topa a tudo ainda foi mais abusivamente simplificacionista que todos.

D’ Silvas Filho