Voltar à página da ficção

 

 

O DEUS FEMININO

PREFÁCIO

 

     Este livro é constituído por um conjunto de histórias independentes, atadas numa linha comum sob a forma dum concurso de novelas.  Nalgumas, há uma surtida lúdica nos domínios da imaginação, como no conto do oráculo que permite adivinhar o futuro, no do hermafrodita com o seu problema, ou no do moço que consegue tecnicamente separar a alma do corpo. Noutras há, simplesmente, a comoção que muitas vezes nos avassala ante o `drama da vida'.

    Neste trabalho, o tema central é a importância da Mulher na vida dos homens; não só atendendo ao aspecto básico da maternidade e ao culto que por tal lhe é devido, mas principalmente considerando o equilíbrio `indispensável' que o pragmatismo feminino traz à humanidade. O padre Amândio, de um dos contos, chegará, por outras palavras, a esta mesma conclusão: «Se o Deus Criador é masculino, e imprevisível, e justiceiro, então forçosamente terá de haver, com iguais poderes, uma Deusa da Harmonia, para trazer bondade e poesia ao mundo, com o seu carinho de `Mulher-Mãe'...»

 

    Personagens, locais e situações são na generalidade fictícios. Até mesmo os acontecimentos baseados em factos reais, nomeadamente os descritos na primeira pessoa, foram compostos «...ao sabor da fantasia...».

    Mas sem ideias dogmáticas. Numa época em que a humanidade anda à deriva no paraíso perdido das suas utopias, a atitude mais sensata agora é acompanhá-la nessa busca, porque a verdade é que, `fora da fé pura', já ninguém pode presentemente dizer que tem certezas absolutas...

    E sem esquecer, também, que o nosso tempo, de grande multiplicidade de distracções, não favorece o romance de diversão. Mais do que nunca, o escritor deve ter sempre presente que o objectivo é comungar a emoção com os seus possíveis contempladores, como se justifica no Epílogo, evitando que se desinteressem.

 

 

ÍNDICE

  

   INTRÓITO                                                           7

 

O ORÁCULO                                                        

    (concorrente 1)                                                  17

 

A MASCARADA                                                    

    (concorrente 3)                                                  75

 

UMA HISTÓRIA PROIBIDA                                      

     (concorrente 2)                                                 117

 

UM DESPERDÍCIO DE DEUS                                    

     (concorrente 4)                                                 155

 

O SACRIFÍCIO (IN)COMPLETO                                 

     (concorrente 5)                                                 169

 

O EXEMPLO VIVO DUMA ALMA SOLTA DO CORPO          

     (concorrente 6)                                                 259

 

      EPÍLOGO                                                          383

 

 

 

RESUMOS

 

O ORÁCULO

      Acordou de manhãzinha com a tal angústia sua conhecida... Até ficou com medo de ir à secretária. Por fim, lá se decidiu. E estremeceu quando olhou: .....

 

 

A MASCARADA

      Sozinho com os seus pensamentos, o traumatizado iniciou a avaliação das vantagens e inconvenientes da sua personalidade. Com que então era agora o Felisberto Cruz...

 

 

UMA HISTÓRIA PROIBIDA

      Quando a criança lhe nasceu, Noémia ficou sem saber se haveria de a registar com o nome de rapaz ou de rapariga...

 .....

 

UM DESPERDÍCIO DE DEUS

.....

    Sentei‑me numa cadeira em frente da cama. E ali ficámos a olhar‑nos, sem dizer nada; ...num silêncio suficiente... Foi a primeira vez na minha vida que aprendi a comunicação do silêncio, quando tudo é intraduzível no tumultuar do sentimento, e até as palavras estão a mais... Nesses momentos de espanto, as mentes entendem‑se sem falar. Olhos húmidos, as lágrimas não caem porque é inconveniente, mas elas estão lá, caindo dentro...

    A mãe, também num mutismo dolorido, essa disfarçando com as costas da mão o pingo contínuo do nariz, cirandava, tratando dela. A certa altura, descascou‑lhe uma laranja, deu‑lha em meios gomos, como se faz a um bebé...

    Vinte aninhos... a flor da vida... Um desperdício de Deus...

.....

 

O SACRIFÍCIO (IN)COMPLETO

.....

       O assunto da festa ainda não estava terminado, mas ela não reclamou: adivinhava o que se estava a passar no espírito dele... Observou-o em silêncio, comovida. “Os homens são todos umas crianças grandes. Quando se lhes recusa aquilo que eles exactamente querem e a que se julgam com direito, o direito inerente à sua `...qualidade...´ varonil, ficam destroçados. Para este, pelos vistos, é mais indigno um sexo sem consequências, do que ambos desfazermos as nossas vidas em troca duma ligação que, de qualquer forma, não deixaria de ser sempre condenável...; talvez ainda mais, se permanente... Vá lá entendê-los...”

       O padre levantou-se, estendeu a mão. Filomena, impulsivamente, segurou-lha, elevou-se também. Veio postar-se muito junto do corpo dele, olhando-o ternamente, numa oferta, e avançando lentamente a cabeça.

       Noutra ocasião, como mola irreprimível, Amândio ter-se-ia imediatamente agarrado à mulher; mas, naquele momento, `a mão mole e o outro braço inerte, pendente ao longo do corpo´, traduziam bem o seu estado de alma. É que parecia que o mundo lhe tinha ficado do avesso...

.....

 

 

O EXEMPLO `VIVO´ DUMA ALMA SOLTA DO CORPO

.....

      A certa altura, uma sensação incrível de estar a querer ficar solto de si próprio apossa‑se dele...

      Sente‑se mais solto... mais solto...

      De bito, como num orgasmo tremendo, que nunca tinha experimentado, parece que todo o seu corpo se põe a vibrar, em ondas de frequência cada vez maior, cada vez maior! As pálpebras abrem‑se‑lhe, completamente esgazeado, ...e Ângelo fica, num assombro, a ver os seus próprios olhos, ali muito abertos; com a consciência absoluta de serem seus, mas como se o não fossem!...

 

 

 

Voltar à página da ficção